Terras não votam, pessoas sim

Essa última semana foi marcada pelas eleições dos Estados Unidos, que foi acompanhada de diversas visualizações de dados pelos canais de jornalismo pais a fora. A vitoria de Biden sobre Trump foi acirrada e durou dias pela contagem de votos em cada condado, esta que poderia ser acompanhada pelo próprio Google ao se pesquisar um assunto selecionado. A visualização de dados que o Google mostrava era um mapa cartográfico dos Estados Unidos com as cores azul e vermelho e, mesmo que na barra acima mostrasse que o Biden estava a frente, o mapa ainda assim não repassava essa impressão.

Mapa eleitoral apresentado pelo Google

As representações cartográficas possuem alguns problemas que são discutidos amplamente no meio do datavis. Mas no caso de mapas eleitorais, principalmente de um sistema como o do EUA, existe diversos fatores que entram em voga, sendo estes:

1) Os colégios eleitorais dão pesos diferentes a cada estado e mesmo os maiores e centrais, podem não ter tanto poder de voto quanto Nova Iorque, por exemplo.

2) Os republicanos são representados pela cor vermelha que, de acordo com a teoria das cores, trás mais impacto aos olhos dos leitores que a cor azul, representando os democratas. 

3) O tamanho dos estados não representam a quantidade de votos, e nem a quantidade de estados pintados de determinada cor.

Mas os mapas eleitorais são mentirosos? 

Depende, se você não possui conhecimento sobre o sistema de votação e obtém informação sobre a corrida eleitoral apenas por um mapa cartográfico azul e vermelho, talvez você se engane pelo que esta visualmente representado. Isso é comum de acontecer, o sistema dos Estados Unidos é de fato confuso e não depende apenas de quantidade, como no Brasil. Isso não quer dizer que o Google seja mal intencionado, mas que talvez a escolha de codificação não tenha sido a melhor para o caso.

Lara Trump postou em 2019 uma visualização de dados dos EUA dividido em condados com a frase “Tente impedir isso” sobre este. Sua intenção, certamente foi embasada em apoiar o partido no qual sua família esta inserida, mas acaba sendo enganosa, porque sugere que a maioria os americanos votaram no Trump em 2016. Logo o designer de informação Karim Douieb aceitou o desafio e criou um simples gif, convertendo as formas dos condados em bolhas. O cartograma de repente se torna um gráficos de bolhas em que o diâmetro de cada bolha representa o real poder de votação de cada condado.

Mapa eleitoral criado por Karim Douieb

O mapa de bolhas é uma boa codificação, mas funciona melhor se as bolhas tiverem tamanhos muito diferenciados, tendo que não podemos perceber imediatamente diâmetros ou raios e assim não visualizamos imediatamente uma comparação. 

Os jornais tem utilizado infográficos abusando de cartogramas e mapas para representarem a evolução do voto. Já o cartograma consiste em dividir o mapa real em formas geométricas, podendo então distorcer um mapa para representar os dados não-geográficos; Além de promover inclusão, dado que não demandam uma experiência previa com visualização ou com qualquer sistema eleitoral.

O G1 e New Yorker usufruíram dessa técnica, distorcendo os estados para que cada quadrado colorido fosse representar a totalidade de votos. No entanto, no meio do caminho, o mapa quase se perdeu por completo pelos dados serem representados pelo tamanho dos quadrados, se tornando uma forma abstrata. 

Mapa eleitoral apresentado pelo New Yorker

Temos um problema quando perdemos completamente o formato de um mapa, a intenção, a final, é saber os votos de um pais inteiro e fazer comparações entre estados. Se subtrairmos demais, não conseguiríamos fazer tais comparações. Este problema foi solucionado pelo Financial Times onde, mesmo com um cartograma, em sua versão web utilizou do mapa na parte de trás dos quadradinhos e em sua versão mobile, combinou os quadradinhos no formato dos estados, alem de ter tirado o peso da cor vermelha, equilibrando assim a visualização por um todos.

Mapa eleitoral apresentado pelo Financial Times

A solução do New Yorker foi representar os votos pelo tamanho dos quadrados e a do Financial Times, foi representar pela quantidade de quadrados. Essa diretriz é básica do ISOTYPE, um método de visualização de dados vienenses, onde se da preferencia pela comparação de quantidades, ao invés de tamanho, pela dificuldade de comparação. O ideal, de acordo com o ISOTYPE, seria um número maior de símbolos para um numero maior de coisas.

Claro que essas soluções são apenas hipóteses e criticas ao que ja foi apresentado. Agora cabe aos designers de informação alinharem as visualizações para que o leitor de fato entenda os dados apenas de olhar rapidamente no Google.