Visualizações de dados sobre Covid-19 no Espírito Santo

O terceiro encontro virtual do ciclo de webinars “O que o Design pode informar sobre a Covid-19” aconteceu no dia 07 de julho de 2020 e contou com a participação do designer e professor Mauro Pinheiro. Ele é professor do curso de Design da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) desde 2004 e Doutor em Design pela PUC-Rio, em 2011. Antes de migrar para a área acadêmica, Mauro trabalhou por 10 anos com mídias interativas e experiência do usuário. Seu trabalho de pesquisa concentra-se principalmente na área Design da Informação, explorando as possibilidades de uso da programação e computação física para desenvolver sistemas de informação.

A apresentação de Mauro abordou seu processo de criação de visualizações de dados para entender a situação do Espírito Santo no enfrentamento da Covid-19. Sua motivação deveu-se, em grande,  ao desejo de compreender os efeitos locais da pandemia nos municípios e bairros do estado onde reside.  A partir da exemplos de mapas da evolução da pandemia no Brasil, ele iniciou sua fala ponderando sobre algumas dificuldades para compreender os mesmos.  Ele argumentou que o uso de círculos para representar números de casos em visualizações de dados dificulta a comparação entre as unidades, além de nem sempre possibilitar a analise do que acontece em menor escala, como municípios e bairros

Na sequência, ele apresentou um mapa de dados com controle temporal criado por ele que é capaz de revelar a evolução da pandemia no Brasil: a inicial concentração de casos nas capitais e no litoral do país e o gradual movimento de interiorização do vírus ao longo do tempo (Figura 1). Ele também apresentou outros gráficos (Figura 2 e 3) que permitiram fazer comparações dos dados entre as cidades do Espírito Santo. Os slides de Mauro estão disponíveis aqui.

Figura 1. Crédito: Mauro Pinheiro

 

Figura 2. Crédito: Mauro Pinheiro

Figura 3. Crédito: Mauro Pinheiro

Mauro ressaltou a importância das escolhas de design tanto em nível da natureza, qualidade e proveniência do dado quanto em nível de representação gráfica. Grande parte das visualizações da Covid-19 se baseia no número acumulado de casos, mas é possível revelar outras histórias ao mostrar o desdobramento da evolução da pandemia a partir da quantidade de pessoas que foram curadas, as que faleceram e, ainda, as que permanecem internadas.  

Outros dois aspectos que merecem atenção tratando-se de visualizações de dados sobre a pandemia são escala e taxa. Mauro apresentou dois gráficos que utilizam escalas diferentes, o primeiro em escala linear e o segundo em escala logarítmica (Figura 4). A fim de plotar dados de todos estados em um único gráfico, a escala logarítmica pode ser um recurso eficaz à medida que ela acomoda valores discrepantes em um espaço visual reduzido. Contudo, há que se considerar que a escala logarítmica é de difícil interpretação entre o público leigo. Ademais, na curva de casos confirmados no Brasil é esperado que São Paulo apresente um maior número de casos absolutos pois é o estado com a maior população. Nesse sentido, a taxa por 100 mil habitantes pode ser uma estratégia para compreender melhor o fenômeno, já que ela equaliza os dados permitindo que eles sejam comparados.

Figura 4. Crédito: Mauro Pinheiro

Mauro Pinheiro disse que é possível explorar outras dimensões da pandemia, nas quais números não são suficientes. No Espírito Santo, por exemplo, não se optou por fazer hospital de campanha e para ver o número de leitos ocupados ele fez uma visualização com ícones de pessoas nos leitos (figura 5). Uma tabela não seria capaz de revelar tão bem quanto o gráfico a dimensão da dificuldade da situação. 

Figura 5. Crédito: Mauro Pinheiro

“Essa é a pandemia da desinformação”, disse Mauro ao mostrar um recorte do painel do governo em que as escolhas políticas e de design se misturam (Figura 6). A mudança do ministro da saúde acarretou na alteração do conjunto de informações apresentadas no painel oficial da Covid-19, dando destaque aos casos recuperados, sumindo com os casos acumulados e mantendo só os casos novos, além dos casos de subnotificação.

Figura 6. Crédito: Mauro Pinheiro

Ao final da apresentação, Mauro revelou a fonte de dados para criar suas visualizações e que foi Brasil.IO e o Painel COvid-19 do Espírito Santo. Ele também citou ferramentas para criação de visualizações de dados e livros que considera importantes para quem quer conhecer mais sobre o tema.