Visualização de dados e empatia

O quarto e último encontro do ciclo de webinars  “O que o Design pode informar sobre a Covid-19” aconteceu no dia 14 de julho de 2020 e contou com a participação do designer e professor Ricardo Cunha Lima. Ricardo é professor adjunto no Núcleo de Design e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutor e Mestre em Design pela Escola Superior de Desenho Industrial —ESDI-UERJ e graduação pela PUC.Rio. Trabalhou no Infoglobo, no Jornal Correio Braziliense e colaborou para várias revistas e editoras atuando principalmente nas seguintes áreas: ilustração editorial, design gráfico e infografia. 

Ricardo introduziu sua apresentação sumarizando os tópicos que seriam abordados:

  1. a linguagem da infografia
  2. o problema da neutralidade da visualização por meio do do debate entre Edward Tufte e Nigel Holmes
  3. a produção de vídeos-infográficos que ajudam a “achatar a curva”

O palestrante argumentou que a infografia é uma linguagem multimodal para apresentar e explicar dados e fatos. Dentro da comunicação jornalística, há matérias e reportagens que utilizam ilustração e texto escrito. Nelas, a imagem ilustrativa não interfere no conteúdo textual e vice-versa. Contudo, na infografia há uma relação de interdependência entre texto e imagem. Retirando-se um dos dois, perde-se o sentido da mensagem. 

Algumas infografias são mais retóricas em suas estratégias comunicacionais e alcançam tal abordagem por meio do uso de metáforas visuais. Este é o caso do premiado infográfico do Jaime Serra (Figura 1). Em outros casos, o conceito de neutralidade, a ideia de que a informação deve parecer neutra ou imparcial, é predominante. No entanto, a neutralidade na infografia pode dificultar o entendimento da mensagem em algumas situações. Ricardo comparou dois gráficos de linha (Figura 2) para explicar que não há uma diferença visual perceptiva entre os dois muito embora o segundo gráfico retrate um número muito superior de casos confirmados do que o primeiro. Para o palestrante, isso dificulta a percepção da gravidade da situação por parte do leitor. 

Figura 1. Crédito: Jaime Serra

 

Figura 2. Crédito: Ricardo Cunha Lima

Entrando no terceiro tópico, Ricardo mostrou dois exemplos de vídeos-infográficos que ajudam a “achatar a curva” à medida que esclarecem conteúdos complexos para o leitor. O primeiro exemplo (Figura 3), do jornal Vox, utiliza recursos esquemáticos enquanto o segundo exemplo (Figura 4) — do Kurzgesagt — possui um estilo mais pictórico e explica o fenômeno do contágio de várias formas fazendo uso de redundância, humor e storytelling. A partir desses dois exemplos, Ricardo defendeu a utilização de elementos pictóricos e estratégias retóricas para gerar engajamento emocional no leitor. 

Figura 3. Crédito: Vox
Figura 4. Crédito: Kurzgesagt

Ricardo concluiu sua apresentação dizendo que não há uma maneira certa de se comunicar e que cabe ao designer dosar recursos esquemáticos e recursos pictóricos e equacionar o quanto de retórica e o quanto de neutralidade colocar em um infográfico. Para o palestrante é importante informar gerando empatia, provocando engajamento emocional e  levando em conta o contexto do leitor. 

Ao final da apresentação, as mediadoras Doris e Júlia levantaram questões do chat para debater conceitos como embelezamento, a velocidade da publicação em jornais e a abordagem humanista frente aos dados (data humanism).