Visualizar o Inimaginável: hiperobjetos e visualização de dados no Antropoceno

Diagrama explicativo ensinando a ler a visualização radial presente no primeiro protótipo

 

Esta pesquisa de mestrado em andamento –  desenvolvida dentro do PPGD-UFRJ (Programa de Pós Graduação em Design da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do LabVis (Laboratório de Visualidade e Visualização) – se propõe a analisar visualizações de dados que tratam da mudança climática e compreender que estratégias de representação são utilizadas na comunicação desse fenômeno.

 

Qual a pergunta norteadora da pesquisa?

Como a mudança climática é representada dentro da visualização de dados? E o que isso diz sobre como a compreendemos?

 

Por que isso é relevante?

A hipercomplexidade inerente da mudança climática – com ramificações e efeitos difíceis de conceber – representa uma barreira na comunicação do fenômeno e na compreensão do público leigo sobre ele, dificultando o engajamento com a questão e tomadas de decisão individuais e coletivas.

Compreender como a visualização de dados – disciplina do design largamente empregada para comunicar o consenso científico ao redor da questão – é usada nesse contexto pode nos fornecer recursos para identificar falhas de comunicação e melhor comunicar a realidade da mudança climática.

 

Resumo da pesquisa

A presente pesquisa analisa as estratégias de representação visual da emergência climática dentro da visualização de dados. A extensão e impacto da ação humana sobre o planeta são os pontos centrais do conceito de Antropoceno – definido como a época histórica em que seres humanos são alçados à condição de agentes geológicos que alteram drástica e irreversivelmente a paisagem e organização da vida na Terra. A enorme complexidade e abrangência de fenômenos como a crise climática desafiam as capacidades da visualização de dados e da comunicação científica, demandando a formulação de narrativas e formas de representação condizentes com a escala do problema. À luz do conceito de hiperobjeto postulado por Timothy Morton: fenômenos maciços em escala e diluídos em tempo e espaço, o projeto tem como objeto principal as visualizações de dados ambientais elaboradas no âmbito do jornalismo visual e da comunicação ao público leigo, se valendo da análise iconográfica de visualizações e da revisão sistemática de literatura acerca dessas representações. Desenvolvido por meio do método de Research Through Design, o projeto propõe o desenvolvimento de projetos de visualização iterativos que dialoguem com a problemática em questão e levem a reflexões sobre boas práticas, contribuindo para a construção de um imaginário visual sobre o tema.

 

Quais os métodos utilizados?

A análise de artefatos de design empregada na classificação dos projetos tem como alvo visualizações de dados voltadas ao público leigo, publicadas em meios de comunicação e outras instituições associadas. Ela segue um protocolo que levanta informações formais – como os tipos de dados empregados, as estratégias de codificação e visualização, interatividade, entre outros – e também classifica os projetos a partir de eixos de análise decorrentes de conceitos levantados na Revisão Bibliográfica Sistemática – como protagonismo humano ou não-humano, referencial temporal, entre outros.

Por compreender que a mudança climática se trata de um problema capcioso – para o qual há múltiplas soluções concomitantes (RITTEL; WEBER; 1973) – a pesquisa tem como principal método o Research Through Design (FRANKEL;RACINE, 2010), objetivando desenvolver de forma iterativa artefatos de design e visualizações que pretendam endereçar diferentes problemas na comunicação do fenômeno e sirvam de fio condutor da investigação e das reflexões de pesquisa. Dessa forma, são realizados ciclos de pesquisa, em que um corpo de visualizações é analisado, confrontado com questões da literatura e usado para gerar reflexões para o desenvolvimento de um projeto de design.

 

O que a pesquisa já produziu?

Primeiro protótipo

Até o momento já foram analisados e classificados os seguintes 32 projetos de visualização da mudança climática, segundo o protocolo de análise:

 

Essa etapa de análise forneceu insumos para o desenvolvimento da primeira iteração de um protótipo de visualização, denominado Escalas em Aquecimento. Partindo da reflexão sobre o conceito de agregado multiespécies de Anna Tsing (2019), a ideia de design como contexto de Arjun Appadurai (2013) e o conceito de hiperobjeto de Timothy Morton (2015), o protótipo deveria cumprir três requisitos:

  1. Representar a crise climática conjugando dados relativos a humanos e não-humanos;
  2. Representar dados da crise climática como contexto para outros dados em uma cadeia de associações;
  3. Representar a crise climática em escalas temporais ou espaciais extensas, abrangendo períodos além da longevidade humana.

A forma escolhida para atender às necessidades do protótipo foi a da visualização animada, que pode ser vista no seguinte vídeo:

 

 

Artigo CIDI

As reflexões conduzidas ao longo da pesquisa resultaram também no artigo “Plásticos e meio ambiente: analisando fenômenos ambientais complexos em visualizações de dados”,  apresentado no 10º CIDI (Congresso Internacional de Design da Informação) e que direciona o método de análise de artefatos empregado na pesquisa especificamente para a questão da poluição de plásticos.

Plásticos e meio ambiente: analisando fenômenos ambientais complexos em visualizações de dados

Provocação VIS4DH

As bases conceituais das quais parte o projeto foram também a base para a provocação “A single data point is already big data” apresentada na sexta edição do VIS4DH (Workshop on Visualization for the Digital Humanities), oficina que integra a programação da IEEEVIS 2021. Com base em ideias de Timothy Morton, Tim Ingold, Anna Tsing e outros autores, a provocação reflete sobre questões de escala inerentes à própria ideia de dado.

Uma unidade de dado já é “Big Data”

 

Quais os próximos passos?

A pesquisa se concentra agora em incrementar o corpo de projetos analisados e buscar novos referenciais na revisão de literatura, com o objetivo de criar insumos para novas iterações do processo de design de protótipos de visualização.

Ideias, colaborações e discussões são bem-vindas. Entre em contato: rodolfoalmd@gmail.com.