Escultura de dados: tráfico de escravos africanos

A dispersão de africanos escravizados pelo mundo atlântico

O presente trabalho consiste em uma visualização de dados  física. Insere-se no campo da arte e do design conhecido como data art, em visualização de dados. A presente escultura de dados mostra o tráfico de escravos africanos, considerando o número de homens e mulheres que cruzaram o Oceano Atlântico entre os séculos XV e XIX, tendo muitos deles morrido durante a travessia. Para realizar este projeto, foram utilizados dados abertos, disponíveis em https://slavevoyages.org/, organizado pela Emory University, EUA, como resultado de décadas de pesquisa independente e colaborativa. Ao todo, o Banco de Dados de Tráfego Escravo Transatlântico possui aproximadamente 35.000 viagens registradas. Calcula-se que 12 milhões e meio de cativos partiram da África para as Américas. Trata-se da maior migração transoceânica de um povo até então.

Escultura de dados: tráfico de escravos africanos

 

O projeto, pesquisa e criação

Uma pesquisa inicial das várias culturas e etnias africanas identificou o uso de miçangas – ou contas – em ornamentos religiosos e festivos, de africanos e afrodescendentes, marcando uma presença cultural significativa. No Brasil, por exemplo, as miçangas são utilizadas na confecção de guias e fios de conta, que são os colares religiosos usados pelos adeptos das religiões de matriz africana. Essas peças seriam responsáveis por estabelecer a comunicação espiritual com o Orixá ou a Entidade, isto é, representam o elo de ligação entre a matéria e o divino.

Dado o grande número de africanos transportados, optou-se por apresentar os dados distribuídos em períodos de 50 anos, considerando as chamadas grandes regiões de embarque e desembarque de comércio de escravos. Mesmo assim, a maior dificuldade neste projeto foi determinar o valor numérico representado por cada conta, uma vez que os valores atingem a ordem de milhões. No final, considerando o espaço físico de exibição da peça, os problemas de transporte e os custos de execução, foi estabelecido que cada miçanga representaria 10.000 indivíduos. Consulte os esquemas abaixo para obter definições de mapeamento detalhadas.

Escultura de Dados: tráfico de escravos africanos
Escultura de dados: tráfico de escravos africanos

 

Esquema de montagem da escultura

Na figura acima, cada forma circular indica um período histórico. Os períodos encontram-se divididos a cada 50 anos. Observe, na imagem abaixo, o círculo maior representando o ápice do tráfico, ocorrido entre 1751 e 1800. No último meio século, a escravidão já havia sido proibida em alguns países. Por isso, um círculo tão pequeno.

Escultura de Dados: tráfico de escravos africanos
Vista lateral: escultura de dados

 

Como “ler” os dados

Com o esquema de cores, é possível acompanhar o volume de tráfico de cada país ou região da África. Cada miçanga colorida representa 10.0000 africanos que foram deslocados como escravos. Não foi possível estabelecer uma proporção menor para o número de pessoas por miçanga. Estudos nesse sentido mostraram que a execução e transporte da obra seriam impossíveis. Nesse contexto, quantidades menores foram suprimidas e outras foram arredondadas. As cores indicam as grandes regiões de embarque e desembarque.

Escultura de Dados: tráfico de escravos africanos
Esquema de cores da escultura sobre o tráfico de escravos na África

Escultura de Dados: projeto do curso de Comunicação Visual

Este trabalho foi realizado por Douglas Luddens na disciplina de projeto de visualização de dados físico, curso de Comunicação Visual Design da Escola de Belas Artes da UFRJ, ministrado pela professora Doris Kosminsky no semestre de 2019.1

Visite labvis.eba.ufrj.br para mais informações.