Desafios para a representação visual de dados da Covid-19

O segundo encontro virtual do ciclo de webinars “O que o Design pode informar sobre a Covid-19” aconteceu no dia 23 de junho de 2020 e contou com a fala da professora Júlia Giannella sobre a responsabilidades dos profissionais envolvidos nas atividades de aquisição, representação e comunicação de dados do novo coronavírus e sobre como designers da informação participam desse processo. A mediação da conversa foi feita pela professora Doris Kosminsky e contou com a participação do público com perguntas e comentários por meio do chat.

Júlia iniciou a apresentação discutindo sobre a confiabilidade dos dados apresentados em visualizações, considerando que eles carregam uma certa subjetividade que inicia no simples ato de contar. Afim de exemplificar este argumento, Júlia propôs um exercício de contagem de ervilhas presente em uma imagem (Figura 1), e concluiu que a ação de classificação — que é subjetiva — é imprescindível para a contagem. Desta forma, ela enfatizou a necessidade de responsabilidade na representação dos dados do novo coronavírus. Júlia problematizou a situação dizendo que se representações de dados forem feitas de maneira simplista demais, elas podem oferecer informações equivocadas, podem ser mal interpretadas e até mesmo impedir que as pessoas consigam extrapolar os números e entender o que realmente importa.

Figura 1 – O desafio de contar. Fonte: Deborah Stone (2018)

A apresentação foi dividida em duas partes. No primeiro momento,  Júlia mostrou cinco desafios para as representações visuais: conceitos, contagem, comparação, contexto e incerteza (Figura 2). O primeiro desafio — conceitos — refletiu sorbre como comunicar os efeitos de uma pandemia quando não há dados concretos. O segundo desafio — contagem — problematizou sobre como medir a propagação da Covid-19. O desafio três — comparação — abordou a comparação da propagação do vírus em diferentes locais. O quarto desafio — contexto — lembrou dos efeitos desproporcionais da Covid-19 em segmentos mais vulneráveis. E por fim, o quinto — incerteza — abordou a comunicação de dados que são desconhecidos, vagos ou questionáveis.

Figura 2 – para a representação visual de dados da Covid-19. Crédito: Júlia Giannella (2020)

Júlia mostrou visualizações nacionais e internacionais sobre o avanço do novo coronavírus para exemplificar cada um dos cinco desafios. Trabalhos realizados por jornais como O Estadão, A Folha de S. Paulo, O Globo, The Washington Post e New York Times e por designers independentes como Mona Chalabi (Figura 3), Federica Fragapani dentre outros.

Figura 3 – duas visualizações desenhadas à mão por Mona Chalabi.

Por fim, Júlia concluiu sua apresentação refletindo sobre a importância de designers ampliarem seus conhecimentos e habilidades para além de questões formais e tecnológicas, envolvendo-se de forma crítica, responsável e participativa com o conteúdo do dado.