A forma dos sonhos

Dentes que caem, perseguições, quedas de abismo, voar… você não é o único que já sonhou com isso. O inconsciente humano apresenta infinitas possibilidades de sonhos mas, curiosamente, muitos temas acabam se repetindo – não só em diferentes mentes mas em diversas culturas, países e etnias.  

A partir desse fenômeno Federica Fragapane desenvolveu The Shape Of Dreams, uma série de visualizações que exploram as temáticas mais sonhadas em diferentes anos e culturas, traçando semelhanças e divergências e trazendo informações curiosas sobre o inconsciente coletivo.

Mas como coletar dados de um tema tão abstrato como os sonhos? Federica realiza essa tarefa de forma criativa. Feito para a Google Trends, os dados do projeto são retirados da barra de busca da própria Google. Ao digitar “O que significa sonhar com” na ferramenta de pesquisa, diferentes possibilidades surgem: cobra, dinheiro, dente, ex-namorados… As respostas que aparecem são as mais pesquisadas naquela língua e, naturalmente, divergem com a troca de idiomas. Por isso, o trabalho é realizado em sete línguas: inglês, espanhol, português, russo, árabe, francês e japonês. Assim, é possível identificar como as diferenças culturais afetam no surgimento dos temas.

Usando cores e elementos visuais que remetem a noite, a plataforma traz uma atmosfera de história para ler antes de dormir. A tipografia serifada e a divisão por capítulos contribuem para a criação dessa narrativa aconchegante, que convida o leitor a dedicar um tempo e se aprofundar um pouco nela.

A história é dividida em quatro capítulos. Cada um deles possui uma seção de leitura do conteúdo e uma de exploração dos dados. Na seção de leitura, explica-se o processo de pesquisa e como ler a visualização. Além disso, são destacados alguns dados curiosos sobre aquele capítulo. Já na fase de exploração, é possível interagir com a visualização em si, decidindo os dados a serem mostrados e tirando suas próprias conclusões a partir deles.

O primeiro capítulo traz flores representando os temas mais pesquisados: quanto mais pétalas, maior o aumento da procura por essa palavra. É possível explorar por ano e por idioma.

Já o segundo capítulo aborda os “mundos” que sonhamos. A partir do estudo de temas pesquisados, os sonhos foram divididos em  12 categorias como animais, dinheiro, corpo humano e viagens/transporte, entre outras. A abordagem também filtra por língua e ano e usa outra metáfora visual de flor para representar os dados.

O terceiro cria um um gráfico que mostra o aumento ou diminuição da pesquisa de um determinado tema ao longo do tempo. Esse capítulo é muito interessante pois mostra como eventos externos afetam o nosso inconsciente. Sonhar com furacões, por exemplo, não é algo tão comum mas teve um crescimento impressionante em 2017. Nesse ano, o Furacão Irma assolou alguns estados dos Estados Unidos, gerando um pico de sonhos sobre a temática naquele momento.

Já o quarto e último capítulo mostra como os sonhos ilustram as conexões existentes entre culturas. Através de um diagrama de rede, conectam-se os sonhos em comum pesquisados em diferentes idiomas. A partir dessa visualização, percebe-se por exemplo como é grande a conexão cultural entre os falantes de português, espanhol e inglês, que em todos os anos possuem muito mais sonhos em comum do que os outros idiomas. Como brasileiros, não é difícil entender alguns dos motivos que permitem essa conexão, já que alguns dos países que o Brasil tem mais contato são os países latinoamericanos e os Estados Unidos.

A “rede de sonhos” mostra os sonhos buscados em comum entre diferentes idiomas em 2019.
Sonhos mais buscados em português e em outros idiomas em 2019.

Assim, as visualizações permitem que o leitor explore e tire seus próprios insights a partir dos dados, usando-os como ponte para conectar-se com o universo do inconsciente coletivo. Vale a pena conferir.