Você no epicentro da epidemia
E se todas as pessoas mortas pela Covid-19 no Brasil estivessem na sua vizinhança? A Agência Lupa em conjunto com a Google News Initiative realizou um projeto que torna possível vermos essa realidade. Bairros e cidades inteiras sumiriam do mapa se o impacto fosse literalmente ao nosso lado. São ruas que conhecemos, pessoas para quem demos xícaras de açúcar, como a Covid-19 chegou tão próxima a nós? A transformação dos dados de morte em vidas humanas tem sido evoluída pelo jornalismo de dados e visualizadores preocupados com as respostas da sociedade na atual conjuntura. É preciso se lembrar da humanidade e materializar os números.
Essa tragédia invisível foi explorada pelo projeto com um time que se baseou em começar pelo quintal do usuário, uma visão personalizada e próxima e ampliando para a visão ampla, para que se veja como a ameaça está afetando a sociedade. Mesmo sem saber, elaboraram uma estrutura que evoca dinâmicas informativas que a pesquisadora Nikki Usher chama de near view e far view em seu livro Interactive Journalism, de 2016.
Dois pontos de entrada narrativa diferentes contam a história de uma forma organizada que oferece tanto experiência quanto contexto social; perto e longe. A prática de contar a história de perto e de longe dá a capacidade de as histórias ressoarem através de uma paisagem social mais ampla e dentro do próprio quintal do usuário
Nikki Usher, em Interactive Journalism (2016), pg. 161
Desta forma, os protagonistas do projeto se reuniram em brainstorm para propor ideias e solucionar problemas. Iniciaram com uma lista de 11 propostas e afunilaram 4 destas em uma: a representação geográfica da vizinhança do leitor integrada com storytelling e data-driven. Ou seja, o usuário que acessar a visualização irá inserir os dados de onde mora e, a partir disso, a tela se transformará em toda sua vizinhança com um círculo de mortes e você sendo o epicentro. Essa aproximação faz parte da narrativa e conta com a palavra-chave perda. Os pontos que se iluminam são seres humanos que não necessariamente estão no seu bairro, mas foram vítimas da doença.
Todo o estudo deste projeto pode ser encontrado na plataforma do Medium, contada pelo jornalista Rodrigo Menegat Schuinski. Os desafios da equipe são destrinchados até a proposta final. Essa visualização é importante para o futuro do jornalismo de dados e para servir de parâmetro para o que estamos enfrentando hoje. As linhas e gráficos de barras foram convertidos para uma vertente não abstrata e mais passível de engajamento. Números são vidas, e os jornalistas estão contando essa história através dos dados.