Visualizando os dilemas e complexidades da adoção no Brasil
Premiado internacionalmente, o jornal Estadão publicou em 2019 uma visualização sobre os dilemas da adoção no Brasil. De forma sensível e clara, a plataforma criada traz atenção à realidade preocupante que os dados apontam.
Apesar da existência de muitos possíveis pais procurando filhos para integrar sua família, uma parcela muito pequena dessas crianças e adolescentes consegue ser adotada. Para além da lentidão dos processos da Justiça, a dificuldade se dá também pelo contraste entre os perfis de crianças buscados pelos pais e a realidade. Fatores como idade, raça, gênero e ter irmãos ou deficiência influenciam (e muito) na decisão dos futuros guardiões de adotar ou não um jovem.
Em uma visualização de dados premiada pelo Kantar Information is Beautiful Awards 2019, a equipe formada por Bruno Ponceano, Mariana Cunha, Júlia Marques e Vinicius Sueiro criou uma simulação que ilustra essa realidade. Através de metáforas visuais e uma plataforma didática, a visualização mostra ao leitor como pode variar, dependendo das características da criança, as chances desta de entrar em uma família.
Buscando um olhar mais sensível, optou-se por representar as crianças como pequenas plantas, que crescem com o passar dos anos. Além da idade, também foi retratado se a criança tem irmãos ou não, através de ramificações na plantinha, ou se possui deficiência física ou cognitiva, ilustrada por uma flor amarela.
Após explicar como funciona a representação, o Estadão convida o leitor a fazer duas simulações e comparar: quanto tempo leva para uma criança de 2 anos ser adotada? E uma de 10?
Assim, inicia-se a simulação de um abrigo com 100 crianças e, com ela, a passagem do tempo. Usando dados do IBGE e do Cadastro Nacional de Adoção, a visualização mostra a quantidade de pais consultados, crianças adotadas e jovens que são obrigados a sair do abrigo por completar 18 anos ao longo do tempo em que a criança em foco espera a adoção.
Complementando o simulacro são elencados outros gráficos mostrando quem são essas crianças e quais delas são mais aceitas pelos pais pretendentes. Essas visualizações também são separadas através dos mesmos fatores de idade, raça, existência ou não de irmãos e de deficiência física ou cognitiva.
Esse projeto interativo de visualização, além de fazer uso de um design inteligente e bem executado, também traz um olhar sensível e urgente a uma situação alarmante. Ela conta histórias e faz o leitor realmente ter consciência dessa realidade. Ao serem confrontados com dados assim, é possível que muitos futuros pais repensem se seus critérios são realmente tão decisivos, e que novas famílias possam ser formadas.
A visualização está disponível para o público no site do Estadão. A plataforma é muito didática e informativa, complementando tudo isso com explicações de como a simulação foi criada e com notícias e textos que relatam a realidade de adoção no Brasil. Vale a pena conferir!