Viagem ao Centro da Memória
Você já se imaginou viajando entre suas memórias? Acessando rostos, imagens, cenas e situações que você gostaria – ou não – de rever?
Todos os dias, há praticamente quatro anos, o artista multimídia e lifelogger chinês Alan Kwan registra dez horas de seu dia em vídeo através de uma câmera GoPro plugada em seus óculos, criando um arquivo digital de suas memórias. No mesmo dia, Alan faz o upload das horas vídeo para sua memória virtual, um universo chamado por ele de Bad Trip.
Kwan e seu óculos com a adaptação da GoPro
Sobre o Bad Trip
Bad Trip é na verdade uma viagem à mente do artista em forma de um jogo. Kwan desenvolveu o universo num sistema de interação que permite aos espectadores acesso as suas memórias virtuais, navegando com um controle de vídeo game.
Em entrevista ao blog italiano Wired.it, Kwan afirma que o prato cheio do jogo não está na só experiência sensitiva da interação, também é importante “a sensação que se prova navegando por um espaço mental”. O projeto não interessa a ele não só como uma forma de lifelog, mas também como passaporte à mente humana.
O universo de Bad Trip é um cenário monocromático surreal com casas espalhadas por toda sua extensão. Nas casas, moldadas por Kwan, o jogador pode acessar memórias visuais e com sons levemente distorcidos. Kwan aplica filtros nas imagens de seus cubos de memória, deixando-as com um tom de lembrança cinematográfica. Veja os respectivos exemplos:
O projeto já viajou por alguns países, passando pelo Ars Electronica Festival na Áustria, o ZKM Centre for Art and Media na Alemanha, e Museum of Contemporary Art em Shangai. Ainda sendo um jogo no qual as interações estão restritas às exposições, Kwan deseja levar esse universo para além de suas próprias memórias. Ele pretende distribuir o jogo, trabalhando com um formato popular e interativo que permita o upload de universos externos (de outros usuários). Alan cita a possibilidade de cada jogador criar seu próprio Palácio de Memórias, vender e comprar lembranças em um mercado ou até mesmo destruir com armas construções alheias, forçando outros jogadores a “esquecerem”. O Palácio da Memória (Memory Palace) é um software desenvolvido com o objetivo de facilitar a criação pessoal de universos de memória. Os vídeos enviados para o software se transformarão em cubos de memória que o jogador pode dispor conforme sua vontade dentro do espaço virtual. Veja abaixo o Memory Palace de Kwan.
Para modelar seu universo, Kwan utilizou o programa Ersi Cityengine, desenvolvido para criação de cenários tridimensionais. O estudante de Artes, Cultura e Tecnologia pela MIT (Massachusetts Institute of Technology), afirmou “Quando comecei a trabalhar no projeto, eu não sabia nada sobre modelagem tridimensional e scripting de jogos. Eu aprendi a partir do zero e tenho desenvolvido um protótipo do software em quatro meses.”.
O sistema de lifelog desenvolvido por Kwan permite simplicidade no acesso a esse formato de registro, a câmera adaptada por ele cabe em qualquer óculos, o controle para o game é um joystick popular. O que Alan criou é uma forma interessante e inovadora de registrar o dia a dia. Considerando o projeto de Kwan, desde o jogo Bad Trip até os Memory Palaces percebe-se uma nova forma de memorizar o mundo, condizente com idade da vida em rede, com a atual geração que registra, diariamente, inúmeras ações, ideias e desejos em fotografias, vídeos, etc, com o intuito de compartilhar com os demais. O projeto de lifelog desse artista pode ser um diário, uma obra de arte, uma forma pessoal de se guardar o que se deseja. É um reflexo de uma geração que armazena o que faz parte de si não só em seu cérebro, mas também em micro cartões de memória de 32GB ou HDs externos de 1TB.
Confira o vídeo demo do game:
[vimeo 47943812 w=640&h=360]
Acesse a página oficial de Alan Kwan para navegar entre as demonstrações de seu jogo e seu software acessando o site de Alan.Sorry! LabVis’ blog posts are not available in English language. Check out our portfolio in Projects to know our work in English.