Somnium: mapeamento de sonhos

A memória é para os humanos uma habilidade preciosa e efêmera. Somos capazes de armazenar dados, movimentos motores, fatos – reais ou não – e tudo isso depende do nível de importância ou recorrência de determinada informação. A memória de cada indivíduo é responsabilidade de si mesmo, e de poucos que o cercam com interesse. Desde histórias de vida até grandes conquistas pessoais, invariavelmente, morrerão um dia – quando a memória do último sujeito conhecedor do fato for lavada pelo tempo.

O interessante é que, cada vez mais, a memória individual não cabe mais apenas ao cérebro humano. Suas existências, assim como ações, histórias e relações são constantemente atualizadas na Nuvem. A internet, com suas redes sociais, drivers de armazenamento, GPS, coleta incessante de dados de navegação, tornou-se uma extensão da memória humana. Com o passar do tempo, a espécie humana não mais existirá, mas, com os cuidados certos, ainda estará preservado um código que mostrará onde um indivíduo estava, no dia 21/09/2015, as 9h51; porque o GPS de seu smartphone estava ligado.

Lifelogging – dados gerados em atividades diárias

Dentre muitas propostas que traz a técnica de Lifelogging, está a incrementação da memória. Considerando o Lifelog em visualização de dados, em resumo, trabalhar os dados que geramos diariamente, em diversas extensões da natureza humana – digital ou não, no caso deste projeto, em visualizações e infográficos. É interessante apontar como referências não só na área de lifelog, como também para Somnium, nomes como Nicholas Feltron, Laure Frick e Chirstian Boltanski , apesar de não necessariamente ter a memória como foco principal (exceto por Boltanski que traz em muitas de suas performances a memória como principal ponto de discussão), trazem em seus trabalhos um registro quase perene de suas existências – e a de terceiros.

Somnium – registro de sonhos

Somnium, sendo um projeto de visualizações de dados aplicando a técnica de lifelogging, é uma luta da memória contra o tempo, que tudo consome – o que pode soar como um paradoxo, já que a o tempo pode não ser nada mais que memória, e a memória, apenas um registro de tempo.

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A proposta do projeto é expandir a curta memorização que temos de sonhos, através do registro de suas recorrências e aplicação em visualização de dados. Acredita-se que sonhos em si já são um meio do cérebro de memorizar e organizar experiências e aprendizados passados; ou seja, os sonhos são montagens de memória. Ainda assim, a responsabilidade sobre eles está nas mãos da chamada memória declarativa, de curto prazo.

A coleta, infelizmente, não pode trazer dados muito exatos ao processo. Ela consistia basicamente na anotação de palavras-chave, após cada sonho. Essas palavras-chave foram divididas em categorias, sendo elas:

  • Lugares;
  • Pessoas;
  • Objetos;
  • Tempos/Horários do dia;
  • Ações;
  • Sentimentos/sensações;
  • Animais.

Também foram considerados:

  • Dias em que não sonhei; ou seja, quando não havia memória de sonhos;
  • Dias em que acordei naturalmente ou não; acordar abruptamente, ser acordada ou dormir tranquilamente, ou seja, a forma como acordei, mostrou-se muito influente no resultado da minha memorização. Nos dias em que acordava naturalmente, sonhava com mais itens que nos dias que era acordada por um fator externo.
Recorte visualização 5 meses de sonhos.
Recorte visualização 5 meses de sonhos.
Detalhe visualização 5 meses de sonhos
Detalhe visualização 5 meses de sonhos
Recorte da visualização “Mapeamento sonhos de junho de 2015”
Recorte da visualização “Mapeamento sonhos de junho de 2015”

Resultados

As visualizações “Mapeamento de cinco meses de sonho 2015” –  a visualização principal – e “Mapeamento do mês de Junho de 2015” – um recorte, para mostrar um mês individualmente, – foram as primeiras do projeto. Montadas no programa Adobe Illustrator, são duas pranchas impressas A2 (42x50cm).

As visualizações trazem os itens mais recorrentes de cada categoria, assim como mostram, no decorrer do tempo, o quanto sonhei – influenciada as vezes pelo jeito que acordava.