Memoir- A Busca Pela Memória Perfeita
Lee Hoffman é o homem que não consegue esquecer.Ele registra tudo de seu dia a dia, desde lugares onde foi, pessoas com quem interagiu, o que comeu, o que viu e até o que pensou.Ele mantém há quase cinco anos esse simulacro quase perfeito de uma memória fotográfica através de um acervo digital de fotos e notas diárias no seu iPhone, tudo para garantir que ele nunca se esqueça de nada.
Esse comportamento que pode ser considerado por alguns como compulsivo,teve origem na verdade em uma ”checagem de sanidade”. Durante o final de um relacionamento, Hoffman estava passando por um momento emocional conturbado e começou a anotar suas variações de humor durante as conversas com a namorada, que pareciam cada vez mais distantes.
Terminado o relacionamento, Hoffamn, que sempre se considerou uma pessoa analítica mas não muito chegada a fotos, descobriu uma nova visão de mundo ao continuar com seu log. Ele tem acumulado tantos dados que são suficientes para reviver o passado de forma bastante literal – e portanto, ele comenta, compreender melhor o presente.
Agora, ele trabalha ajudando outros a fazer o mesmo.Talvez não tão intensamente como seu próprio projeto, mas ainda assim coletando os dados que produzimos diariamente por conta própria através de redes sociais e mensagens- que vem vez de estarem organizadas para nós mesmos, estão voltadas para o compartilhamento em redes sociais.
Em setembro de 2013 Hoffman lançou o Memoir, um aplicativo para IOS e OS X que redireciona o foco dessas informações para narrar a história de nossas vidas.
Memoir basicamente organiza um vasto acervo de informações pessoais ( fotos de celular, status de facebook, tweets, posts do instagram..) em um catálogo de fácil acessibilidade que faz ressurgirem posts antigos em momentos relevantes.Por exemplo, quando entrar em um restaurante, o Memoir pode lembrar você de que já esteve lá apresentando um status ou post antigo.Se você procurar por um amigo no aplicativo, ele mostrará as fotos que vocês tiraram quando estavam no mesmo lugar e ao mesmo tempo, independente de você estar marcado nas fotos ou não.
A intenção, diz ele, é transformar os nossos dados em memórias, e essas memórias em pontos de referência do nosso dia a dia de modo que estes possuam mais significado.
Algumas pessoas,no entanto, apontam os contras da memória fotográfica, e os riscos que ela representa.
” A beleza do diário convencional é que registramos o que pensamos ser importante e deixamos de fora o trivial. E também que é necessária a inciativa de abrir o diário e analisar o seu conteúdo posteriormente” diz Viktor Mayer-Schonberger, autor do livro Delete: The Virtue of Forgetting in the Digital Age. ” O problema começa quando o diário começa a capturar automaticamente diversos pedaços de informações em grande quantidade, de modo que não conseguimos escapar o nosso passado pois somos constantemente lembrados dele”.
” Sempre há um risco emocional ligado a ter o seu passado completamente preservado.Se não somos capazes de esquecer, permanecemos presos a nossas memórias em vez de vivermos o presente ” – ele acrescenta.
Memoir recebeu comentários de consumidores preocupados em serem lembrados de um passado doloroso. A solução da equipe foi simples: lembrar todos os usuários de que eles estão em controle das próprias memórias; se não gostarem do que está registrado no aplicativo, podem deletar ou escolher uma exibição não tão detalhada de contatos ou eventos particulares.
Hoffman, por outro lado, prefere não seguir esse pensamento. ” Há memórias dolorosas que algumas pessoas preferem não lembrar, mas eu estou feliz por tê-las guardadas pois elas são parte da minha história. É claro que eu fico um pouco abalado, mas também penso que aprendi com elas. Essa experiência fornece contexto e me permite analisar as coisas a partir de diferentes perspectivas” – ele afirma.
Alguns grupos estão pesquisando para dar um passo adiante e não apenas usar memórias do passado para oferecer uma perspectiva sobre o presente , mas também oferecer um feedback acionável e recomendações para o futuro.
O que você acha de nunca mais esquecer?