Gráficos para arte: a visualização como ferramenta de produção artística na obra de Rose Lowder
A visualização de informações é comumente utilizada com o objetivo de produzir determinado diagrama ou gráfico para auxiliar na comunicação entre pessoas e instituições. Mas, por vezes, ela é usada não necessariamente para comunicar, mas sim como uma ferramenta e etapa de produção artística. Seja no caso de artistas que planejam o trabalho em suas telas e pinturas por meio de diagramas feitos à mão, ou que monitoram o andamento de determinada obra de grande complexidade por meio de visualizações de cronograma, por exemplo.
Para alguns artistas, a visualização como ferramenta de produção de uma obra de arte é indissociável da própria obra em si. É o caso da cineasta experimental franco-peruana Rose Lowder com sua série de filmes intitulada “Bouquets”, de 1994-1995, composta de filmes de cerca de dez minutos numerados de 1 a 40.
Com uma montagem rápida e frenética que retrata flores, folhagens e outras imagens de paisagens naturais, a série foi produzida de maneira analógica por Lowder com sua câmera Bolex 16mm, que permite a filmagem quadro a quadro e a rebobinação do filme durante a captação. Assim, em vez de filmar fotogramas em sequência, como é o caso de uma câmera comum, ela permite que alguns quadros sejam preenchidos pela filmagem e outros sejam deixados vazios para serem preenchidos depois. Lowder faz uso desse recurso para registrar certas imagens nos quadros pares e outras imagens nos quadros ímpares, criando uma “costura” de duas ou mais paisagens distintas.
Veja um trecho:
Para produzir esse efeito sem qualquer pós-produção ou edição sobre o filme, é fundamental para a artista criar um plano de quais quadros do filme serão preenchidos com quais imagens e manter um registro durante as filmagens de quais quadros ainda estão vazios. É aí que a visualização cumpre um papel importante e pouco usual: usando um caderno pautado, lápis coloridos e canetas, a artista cria uma representação dos quadros do filme com uma lógica de codificação visual própria.
Cada página de seu caderno é uma transcrição visual de 10 segundos do filme divididos em células únicas para cada fotograma. Além de usar legenda de cor para indicar quais imagens estão registradas em quais fotogramas, a artista trata essa visualização como uma extensão do filme, acrescentando ilustrações de flores e paisagens que se misturam à pauta.
Seus cadernos são, assim, tanto uma etapa e ferramenta para a produção de um outro artefato artístico, quanto artefatos em si mesmos: ao mesmo tempo um registro e planejamento de uma obra e a materialização visual de um raciocínio artístico feita enquanto ele acontece.
Outros artistas já extensivamente estudados como Wassily Kandinsky também usavam de diagramas para planejar suas obras, mas a apreciação desse gênero de diagrama dentro da disciplina da visualização de dados ainda merece maior atenção e é um campo fértil para pesquisa futura.
Veja a seguir algumas imagens dos cadernos de Rose Lowder produzidos na obra Bouquets:
Os cadernos foram reproduzidos e editados em uma publicação disponível para venda pelo Visual Studies Workshop.