Quando a DataViz encontra o feminismo

A visualização de dados é um meio potente para transmitir informações complexas de forma impactante, clara e concisa. Desde gráficos simples nos noticiários até peças de arte em museus, a DataViz tem ferramentas preciosas para encapsular a complexidade de nosso mundo de maneira que todos possamos fazer uso dessas informações para embasar nossa atuação política em sociedade. Dessa forma, essas visualizações podem expor injustiças e conscientizar sobre temas sociais importantes. Contudo, o mundo dos dados ainda é dominado por narrativas que favorecem e destacam homens cis brancos do Norte global. A abordagem do feminismo de dados (Data Feminism) busca ir contra essa maré e mostra como uma abordagem que busca a igualdade de gênero e de raça pode transformar o jeito que entendemos dados e suas visualizações.

A principal expoente do feminismo de dados é a professora do MIT Catherine D’Ignazio que dirige o laboratório Data+Feminism Lab. O laboratório se baseia em uma abordagem interseccional ao utilizar dados e métodos computacionais para trabalhar em prol da justiça racial e de gênero. D’Ignazio possui dois importantes livros a respeito do feminismo de dados: “Data Feminism”, publicado em 2020 com co-autoria de Laura Klein e “Counting Feminicide: Data Feminism in Action”, publicado neste ano.

Na época, me chocava a falta de crítica no discurso. Ninguém perguntava de onde vêm os dados, quem produz, quem coleta, quem usa, para fazer o quê? Por que há dados sobre umas coisas, e não sobre outras? E foi assim que começou: eu queria trazer mais críticas e, no meu caso, com uma lente explicitamente feminista, de quem entende que as questões de poder são determinantes, e não desaparecem magicamente só porque você está usando dados.

Catherine D’Ignazio em entrevista para a revista AzMina fala sobre o início de sua carreira em dados e sua motivação para olhar os dados pela ótica do feminismo.

Em seu primeiro livro, as autoras D’Ignazio e Klein propõe uma nova forma de pensar sobre ciência e ética de dados a partir das ideias do feminismo interseccional. O livro oferece estratégias para cientistas de dados aprender com o feminismo a trabalhar em prol da justiça e para que feministas possam entrar no campo da ciência de dados. Por causa da abordagem interseccional, o livro fala muito além de gênero, mas fala de poder, das pessoas que detêm esse poder e como ele pode ser desafiado. Já no segundo livro, D’Ignazio mostra o poder do feminismo de dados na prática ao colocar lentes sobre ativistas Latino-americanas que contam feminicídio e a importância dessa prática para a justiça social.

Em um mundo onde os dados são frequentemente utilizados para manter estruturas de poder desiguais, o feminismo de dados surge como uma ferramenta crítica para desafiar essas narrativas e promover justiça social. Ao adotar uma abordagem interseccional, como proposto por Catherine D’Ignazio e Laura Klein, podemos transformar a maneira como compreendemos e utilizamos os dados, revelando injustiças que antes eram invisíveis e dando voz às pessoas e comunidades marginalizadas. O Data Feminism nos mostra que os dados não são neutros, e que é necessário reconsiderar suas origens e seu impacto para garantir que, ao serem visualizados, eles realmente sirvam a todos de maneira justa e inclusiva.